Por Lucas Vergilio*
A transformação das profissões costuma acompanhar a dinâmica dos mercados em que estão inseridas. A de corretor de seguros é um exemplo.
Só em 2021, de acordo com a Susep (Superintendência de Seguros Privados), a indústria brasileira de seguros movimentou 6,3% do PIB nacional, incluindo a participação da Saúde Suplementar. Ao longo do ano passado, foram pagos mais de R$ 393,2 bilhões na forma de benefícios, indenizações, resgates, sorteios, despesas médicas e odontológicas. Atualmente, o setor gera 177 mil empregos diretos (fonte: RAIS – Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Previdência).
Números como estes evidenciam não somente o tamanho, mas também a resiliência do mercado de seguros, que manteve seu ritmo de expansão a despeito do cenário adverso dos últimos anos, formado por crise econômica e pandemia da Covid-19. Vale ressaltar, ainda, que o Brasil, como 13ª economia do mundo, ainda figura apenas em 18º lugar no ranking global de seguros, o que dá a medida do potencial de expansão deste segmento e da demanda por profissionais cada vez mais especializados.
Neste contexto, o corretor de seguros é o agente que tem como missão levar para os seus clientes proteção e amparo à vida, à saúde, ao patrimônio e ao futuro das pessoas – missão na qual vem se aperfeiçoando, em sintonia com o ecossistema do mercado de seguros, que agrega hoje também as plataformas de redes sociais, o Open Insurance, a Inteligência Artificial e os Riscos Cibernéticos. Por conta dessas inovações tecnológicas, que determinaram novas relações com o consumidor, os corretores têm renovado sua maneira de atuar, promovendo, inclusive, parcerias com Insurtechs e outras empresas de tecnologia.
Recentemente, um importante reconhecimento à função social desta profissão veio por meio da aprovação da Lei nº 14.430/2022. O novo texto legislativo, aprovado no último dia 4 de agosto e que passa a vigorar em 1º de janeiro de 2023, representou um passo adiante à Lei nº 4.594/1964 (Lei de Corretagem de Seguros) ao detalhar as atribuições legais da atividade do corretor. Atribuições que vão além da mera intermediação da apólice de seguro, passando a ser divididas em momentos distintos: 1) intermediação do contrato, ficando o corretor responsável pela identificação do risco e do interesse que se pretende garantir; 2) recomendação das providências que permitam a obtenção da garantia do seguro, e identificação e recomendação da modalidade de seguros que melhor atenda às necessidades do segurado e identificação e recomendação da seguradora; 3) cumprimento do contrato, ficando o corretor responsável pela prestação de assistência ao segurado e auxílio na regulação e liquidação do sinistro; 4) renovação do contrato, ficando o corretor responsável pela prestação de assistência ao segurado no processo de renovação da apólice, visando a preservação da garantia de seu interesse.
Em um cenário em que os riscos se tornam mais complexos e sofisticados, e em que a indústria precisa investir permanentemente em produtos inovadores, a função do corretor de seguros ganha valor estratégico. Afinal, decifrar um universo tão abrangente em ofertas, que vão desde a área de Danos e Responsabilidades até os segmentos de Vida e Saúde, exige a participação de um profissional comprovadamente qualificado.
Refletindo as oportunidades que este mercado oferece, o total de corretores de seguros habilitados anualmente, entre 2019 e 2021, aumentou 93%, indo de 3.602 para 6.984, segundo dados da Escola de Negócios e Seguros (ENS). Isso se explica pelo fato de que, no mundo inteiro, e em particular no Brasil, as pessoas ampliaram sua percepção de risco nos últimos dois anos, assim como a necessidade de proteger e amparar as famílias, seus bens e negócios, bem como as grandes obras públicas do país.
Esse avanço da presença de corretores de seguros é um reflexo, também, do maior protagonismo hoje exercido pelo mercado. A criação pelo Ministério da Economia de um grupo de trabalho nomeado Iniciativa de Mercado de Seguros (IMS), este ano, foi mais um reconhecimento nesse sentido.
Lançado com o objetivo de discutir medidas de incentivo à indústria de seguros no país, além de melhorar o diálogo com o setor e dar agilidade à tramitação de projetos dentro do governo e no Congresso Nacional, este grupo tem representantes da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Banco Central (BC), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), seguradoras, corretoras e Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). E para não restar dúvida da legitimidade desta iniciativa, ela é coordenada pelo chefe da assessoria especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia e presidente do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNPS), Rogério Boueri Miranda.
Logo após esse lançamento, o mês de outubro marcou a celebração do Dia do Corretor de Seguros. Passados 52 anos da criação da data (12/10), no I Encontro Mundial dos Corretores de Seguros, na Argentina, a categoria desenha para si um futuro com perspectivas concretas. Hoje, com 66,2 mil corretores registrados, a relação no país é de 1 profissional para cada 3,2 milhões de brasileiros. O desafio, portanto, está dado: ampliar a proporção de corretores para atender cada vez melhor a população, e garantir que o corretor de seguros brasileiro esteja sintonizado com as demandas de uma sociedade crescentemente tecnológica e de uma massa de consumidores cada dia mais consciente.
*Lucas Vergilio é presidente da Escola de Negócios e Seguros (ENS)